II Revitalização Auditório Araújo Vianna

AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA
A Praça da Matriz foi o local escolhido pelo Capitão Alexandre Montanha, a mando do governador da província José Marcelino de Figueiredo que, com a anuência do vice-rei em 1772, transferiu a capital de Viamão para esta península e mandou que se fizesse um traçado no qual, “com as dignidades precisas”, fosse escolhido o local para instalar sua administração. Este local, o mais dominante do promontório, constituiu a acrópole da cidade que nascia.
PRECISAMENTE A PRAÇA DA MATRIZ
No entorno do logradouro, localizaram-se os prédios de maior importância: Igreja Matriz, Palácio do Governo, a Câmara e posteriormente outros órgãos como a Casa da Pólvora, Tribunal do Júri e o Teatro São Pedro. Na face oeste do quadrilátero, houve algumas renovações, pois foi primeiramente ocupada pela Hidráulica Municipal, Casa de Bailes, para tornar-se o espaço da Banda Municipal trazendo música à população a partir de uma concha acústica, e um auditório ao ar livre constituído por bancos de concreto arranjados em planos descendentes cobertos por pérgulas revestidas de trepadeiras apetrechadas de flores. O velho casarão da Câmara tornou-se incapaz de acompanhar fisicamente os novos requerimentos da função legislativa e, não tendo para onde se expandir, almejou ocupar o local do auditório Araújo Vianna que então tomava conta de toda a face oeste de praça. Nas negociações com a Prefeitura resolveu-se pela adoção de um convênio pelo qual a prefeitura cedia o terreno do auditório em troca da construção de um novo pela assembléia, conforme local escolhido e projeto a ser elaborado com um programa de necessidades que atendesse, de forma compensatória, a população de Porto Alegre. O novo local escolhido foi o Parque da Redenção, aproveitando-se para sanear uma parte com deficiente drenagem que, por não ter tratamento algum, servia de depósito de lixo junto à Avenida Oswaldo Aranha. Época que não se terceirizava serviços, o projeto foi elaborado na divisão de urbanismo da Secretaria Municipal de Obras e Viação e contou com a autoria dos arquitetos Carlos Maximiliano Fayet e Moacyr Moojen Marques. Era então Presidente da Assembléia o Deputado Cândido Norberto que assessorado por Osvaldo Goldanich, proporcionaram ao município e ao projeto do Auditório um irrestrito apoio, sem que qualquer modificação tivesse sido exigida, tanto no programa de necessidades, bastante avantajado em relação ao existente na Praça da Matriz, quanto às especificações e o volume da edificação que resultou.
O PROJETO
A distância da platéia e o alinhamento da avenida e dos prédios residenciais foi fixada em 110 metros para atender a questão acústica em benefício das duas atividades. O espaço intermediário foi tratado com ajardinamento, onde se situou um passeio deslocado do chão, favorecendo a idéia de acesso com alguma majestade, ao mesmo tempo em que o conjunto ofereceu tratamento paisagístico a esta parte do parque. A curva de visibilidade da platéia foi conseguida através de aterro¹ que na parte externa tem forma de talude gramado, simulando uma elevação natural do terreno, favorecendo a idéia do projeto em mimetizar ao máximo a presença da construção. O espaço interno foi limitado por paredes de tijolos, que oferecem massa acústica, dispostas formando ângulos que refletem o som provindo do exterior e do interior, distribuído da platéia, possuindo ainda espaçamentos que favorecem a visão do parque para os espectadores sentados. A unidade arquitetônica do conjunto foi conseguida com a implantação de uma marquise sobre o topo das paredes (estruturadas para os apoios) cujo prolongamento, em forma oval, cobre as demais dependências do auditório: camarins, administração, salão de ensaios, sanitários e palco (des. 4). A concha acústica teve sua forma, estranha para a época, a partir do projeto do Engenheiro Pedro Paulo Richter, Presidente do Instituto Nacional de Acústica em São Paulo, que prestou colaboração espontânea e gratuita. Trata-se de uma forma, ao contrário da tradicional, (¼ de esfera), constituída de planos orientados para distribuir homogeneamente a emissão sonora aos vários setores da platéia. O projeto estrutural foi elaborado pela Engenheira Elis Stein, funcionária da Prefeitura, sendo que a concha acústica foi calculada pelo Professor Ivo Wolf. As instalações foram projetadas pela empresa Sacks e Perrenou.
A OBRA
A obra iniciou com a administração direta da Prefeitura, locada pelo topógrafo “Zé da luz” e dirigida por Fayet e Moojen. A certa altura, face às dificuldades burocráticas, principalmente na aquisição de materiais e contratação de serviços especializados, foi contratada a empresa construtora Inalco, que finalizou a obra.
A INAUGURAÇÃO
Ocorreu em grande estilo, com os Dragões de Rio Pardo fazendo alas na passarela e o Maestro Pablo Kolmos regendo a Ospa coadjuvado por espetáculo de luz, tiros de canhões e sinos requeridos pela 1812 de Tchaicovsky. Deu-se em 12 de março de 1964, com o Prefeito Sereno Chaise sendo empossado e logo caçado politicamente. Quis as circunstâncias não tornar possível a inauguração pelo Prefeito José Loureiro da Silva, amante da cidade, que o fim de seu segundo mandato tirou-lhe este deleite, muitas vezes manifestando, quando o ritmo da obra brigava com o seu prazo de gestão que se esvaía.
A PERFORMANCE
O Auditório funcionou com aceitação além da expectativa, trazendo à população espetáculos musicais, ópera, reuniões cívicas, sindicais, carnavalescas, etc. Cativou a juventude e passou a ser requisitado com maior freqüência para espetáculos, inclusive contratados. Foi quando se verificou a contingência da falta de cobertura que passou a frustrar grande parte da programação (em torno de 40%). Passou, então, a ser cogitada a implantação de uma cobertura. As opiniões se dividiram e os arquitetos autores eram contra.
A COBERTURA
Venceu a tese de cobrir. O então Secretário de Educação Dr. Carlos Átila encomendou aos arquitetos Fayet e Moojen estudos para atender os reclames. Foram então estudadas 11 hipóteses formais e construtivas, as quais foram atribuídas notas, sendo a vencedora a de parabolóide que pela sua simetria favorecia a forma do conjunto e as questões acústicas esperadas pelo Professor Enio Cruz da Costa (Imagem 7). A forma escolhida foi submetida ao túnel de vento². O projeto previa uma cobertura rígida em madeira sustentada por uma estrutura espacial de alumínio. Embora a administração Vilella tenha obtido verba federal a fundo perdido para a obra, o convênio não logrou aprovação pela Câmara Municipal com maioria na oposição. No governo Collares o assunto retornou com um amplo debate público, cujas audiências aprovaram a execução da cobertura, fazendo com que o projeto fosse reativado, apto para a concorrência, quando houve no desmembramento da Secretaria da Educação com a criação da Secretaria da Cultura, então responsável pela obra. Sem verbas, o assunto novamente morreu.
Na administração de Tarso Genro, aparecem interessados na cobertura a ser feita de lona e, na imprensa algumas formas bizarras foram divulgadas. Uma como se fosse um circo, possuía um mastro central na platéia. Novamente os arquitetos foram chamados após parecer da Procuradoria Jurídica do Município pelo qual cabia a adjudicação direta do projeto por questões de autoria. O relatório então apresentado, embora oferecesse solução para a cobertura em lona tensionada, que teria a mesma forma do projeto anterior, insistia na adoção da solução definitiva, tendo em vista a precariedade da lona em termos de duração e manutenção. Foi definido cobrir com lona e assim foi feito.
PROBLEMAS
No período próximo à inauguração e logo após, a falta de tensão adequada nos cabos e a pouca declividade do projeto ocasionaram bolhas d`água das chuvas intensas, havendo, em um dado momento, ruptura de um cabo e um trecho da lona. Embora houvesse soluções técnicas para o problema, mantendo exatamente a mesma forma, a opção escolhida foi aumentar a inclinação da lona, baixando suas extremidades até tocar a marquise. Esta providência eliminou o risco de retenção d’água, mas terminou com o espaço livre entre a marquise e a cobertura aumentando a reverberação sonora no interior.
A concha acústica anteriormente descrita funcionava plenamente enquanto os espetáculos produziam sons acústicos sem os aumentos de potência requeridos pela música jovem. Com amplificação, ao contrário, a concha passou a ser um agravante ao novo som produzido, ao ponto de ter sido revestida com elementos que anularam seu efeito reflexivo original. O resultado foi a exacerbação sonora cuja propagação transcendeu os limites do parque e incomodou a vizinhança a qual acionou o Ministério Público e este a Prefeitura.
A SOLUÇÃO
O colapso da cobertura de lona pela exaustão do seu tempo útil ensejou a retomada da idéia da cobertura original (cobertura rígida) passível de melhor condicionamento acústico interno e de isolamento externo, ao mesmo tempo em que, em atenção ao MP, determinou profundas modificações no projeto do próprio auditório.
No momento, portanto, volta-se ao projeto original na cobertura com modificações que aproveitam o pórtico metálico de sustentação da lona, com os devidos reforços, e criam-se dispositivos de vedação lateral para calibrar internamente o som que deverá ser contido pelas condições de vizinhança. As vedações laterais estão projetadas na forma de painéis móveis pivotantes que poderão, quando for o caso, permitir as visuais do parque do interior da platéia. Esta radical mudança traz como conseqüência a necessidade de climatização de ambientes e, sugerindo a troca de piso, poltronas, etc... Ter-se-a, pois uma nova casa de espetáculos para 3.500 pessoas que será um misto de teatro e auditório com possibilidade de intensa utilização independente do clima. Se o Auditório Araújo Vianna tivesse mantido sua vocação original como equipamento do parque, muito do que se passou não teria ocorrido. Hoje as opiniões ainda se dividem: cobrir ou não cobrir.
Moacyr Moojen Marques, 2008
II REVITALIZAÇÃO AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA 2010/2015 (Concorrência 01/07 – Parceria Público Privada – 2007 – PMPA/Opus Promoções)
1. PROJETOS E FISCALIZAÇÃO - 2008/2012 EXECUÇÃO DA OBRA - 2010/2012
Arquitetura, Paisagismo, Comunicação Visual, Coordenação Técnica e Fiscalização da Execução da obra:
MooMAA – Moojen & Marques Arquitetos Associados
Arq. Moacyr Moojen Marques, Arq. Sérgio M. Marques, Arq. José Carlos Marques
Colaboração: Arq. Bárbara Mello (gerente de do projeto), Arq. Valentina M. Marques, Arq. Monica Bohrer, Acad. Joana Giugliani, Acad. Natália Arruda.
Arq. Carlos Maximiliano Fayet In memorian
Projeto Estrutural:
Simon Engenharia
Eng. Charles Simon, Eng. Luiz Eduardo Pillar da Silva
Instalações de Ar Condicionado, Elétricas e Hidrossanitárias:
SPM Engenharia
Eng. Sérgio Schneider Moraes
Ar Condicionado - Eng. Vitório Presotto
Elétrica - Eng. Marcos Schneider
Hidrossanitário - Eng. Marcelo Berny
Instalações de Prevenção contra Incêndio:
Servincêndio
Eng Cláudio Hanssen, Eng.Ricardo Azevedo
Acústica:
Atelier Sul
Arq. Flávio Maya Simões
Luminotécnica:
Cristina Maluf Arquitetura & Iluminação
Arq. Cristina Maluf
Cenografia:
Opus Promoções
Téc. Leonardo Troian
Consultoria Técnica da Cobertura:
Eng. Fernando Campos de Souza
Assessoria Gerenciamento de Obra, resíduos sólidos e terraplenagem:
Martins & Reis Construções
Eng. Carlos Martins
Gerenciamento e Execução da Obra:
TECPLAN – Engenharia e Empreendimentos Ltda.
Eng. Luiz Arthur Rangel Sperling
Arq. Fátima Galet
2. FORNECEDORES
MP Estruturas Metálicas
3. PROMOÇÃO
Prefeitura Municipal de Porto Alegre – PMPA
Prefeito
José Fogaça
Vice Prefeito
José Fortunati
Secretário da Cultura
Sergius Gonzaga
Fiscalização da execução
Arq. Luiz Bolcato Custódio (Coordenador Memória Cultural)
OPUS Assessoria e Promoções Artísticas Ltda.
Diretores
Carlos Eduardo Konrath, Geraldo Lopez
Coordenador da Execução
Carlos Eduardo Caramez
Gerente Comercial
Edgar Ruther
Fornecedores:
Acril, Alcoa, Aptilek, Beauleu, Benedeti, Birdair, Brastemp, Carrier, Deca, Dorma, Fiberglas, Firestone, Gerdau, Kangu, Lumini, Megafront, Mineoro, Ortobras, Osram, Permetal, Philips, Plastcor, Refrinox, Renner, Rosco, Shaw, Somax, Tramontina, Trust, Utiluz, Ventokit, Wall Systems. Yor
Imagens : Divulgação OPUS

















BIBLIOGRAFIA
MARQUES, M. M. ; MARQUES, S. M. ; MARQUES, J. C. ; FAYET, C. M. Patrimonio e Cidadania. AU. ARQUITETURA E URBANISMO, v. 279, p. 20-27, 2017.
POLTOSI, Rodrigo. ROMAN, Vlademir. Guia de Arquitetura de Porto Alegre. Escritos, Porto Alegre, 2016.
MARQUES, M. M. ; MARQUES, S. M. ; MARQUES, J. C. . Moojen e Marques Arquitetos Associados: Auditório Araújo Vianna, RS DESPEDEM-SE CÉU E ESTRELAS E ESTREIA MANTA EMBORRACHADA. Projeto Design, v. ArcoWeb, p. 01, 2016.
MARQUES, S. M.. O Anfiteatro, a Foice e o Martelo, o O.V.N.I. e o Guarda Chuva. In: MARQUES, Sergio Moacir; COMAS, Carlos Eduardo; PEIXOTO, Marta. (Org.). O Moderno já Passado | O Passado no Moderno - reciclagem, requalificação, rearquitetura. Ied.Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2009, v. VI, p. 160-178.
PREMIOS E EXPOSIÇÔES
Tombamento como patrimonio Histórico pelo Municipio de Porto Alegre, 1997
ESPETÁCULOS NO AAV DESDE A REVITALIZAÇÃO
Roberto Carlos, Paulinho da Viola, Lenine, Fito Paez, Lulu Santos, Soledad Villamil, Paco de Lucía, Il Volo, Zeca Pagodinho, Skank, Ivete Sangalo, Alicia Keys, Patati Patatá, Jorge Ben Jor, Tiago Abravanel, Fábio Jr, Caetano Veloso, Alejandro Sanz, Djavan, Milton Nascimento, Raça Negra, Rodrigo Amarante, Deep Purple, Luan Santana, Rick Wakeman, Ira!, Peppino Di Capri, Banda do Mar, Julio Iglesias, Frejat, Racionais Mc’s, Julieta Venegas, Roupa Nova, Joan Baez, Seu Jorge, Ana Carolina, America, Zaz, Fresno, Orquesta Buena Vista Social Club, Alpha Blondy & The Solar System, David Garrett, Gal Costa, 2 Cellos, Maria Rita, Jetrho Tull, Yes, Humberto Gessinger, OSPA, Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda e outros
LINKS
https://au.pini.com.br/tag/auditorio-araujo-vianna/
http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/070.pdf
https://portoimagem.wordpress.com/tag/reforma-araujo-viana/