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Casa Maurício Syrotsky Sobrinho

CASA MAURICIO A PARTIR CASA MARCO AURELI

O gosto neoplástico, arquitetura norte-americana e a Casa

Maurício Sirotsky Sobrinho (1963)

 

As casas projetadas por Moojen, no final da década de 1950 e primeiros anos da década de 1960, com características próprias da arquitetura moderna de filiação carioca daqueles tempos, como a Casa Mello Pedreira, apresentavam inclinações gradativas em direção a uma maior abstração formal e racionalidade construtiva, experimentada na Casa de Ipanema, que de certa maneira evidencia critérios de projeto adotados não só na Casa Sirotsky , em 1963, mas também nos projetos para a Petrobras e nos Clubes projetados ao longo da década de 1960, como o Clube do Professor Gaúcho (1966). Em termos formais, outro ponto de culminância dos sistemas investigados por Moojen, conjuntamente com Hekman, neste período coincidente com o início dos trabalhos para a Petrobras, é o encargo para a Casa de Maurício Sirotsky Sobrinho (1925-1986)124 cujo projeto oportunizou condições especiais de elaboração. O esquema geral do projeto obedece a um partido significativamente armado pela organização da planta baixa, resolução criteriosa do programa e articulação formal entre as partes, cuja exploração volumétrica é realizada com intensidade, como nas casas de Wright. O terreno, de esquina, na Rua General Ildefonso Simões Lopes, bairro Três Figueiras, com formato retangular e divisas internas irregulares, é ocupado pela construção desdobrada de alas em "L", de maneira a formar pátio interno e, como um hotel particulier, arrematar a irregularidade do terreno com dependências de serviço. Assim, o vestíbulo de entrada, na esquina e vértice do "L", articula a intersecção das alas. Na sequência linear do ingresso, estão salas de estar e jantar, que delimitam o pátio nesta testada. Na direção perpendicular, copa, cozinha, áreas de serviço, com entrada própria e garagens, delimitam a outra testada. A circulação para as alas, desde o vestíbulo, pode ser feita diretamente entre as salas ou através de portas a partir deste.O segundo pavimento, com ala íntima, acessada desde o vestíbulo, de onde arranca escada e elevador domiciliar, é uma planta em "L" com bateria de 124 Fundador do Grupo RBS, nasceu em Erebango, próximo a Erechim. Empresário da área de comunicações, criou a TV Gaúcha em 1962 e o Grupo RBS em em 1965, reunindo a TV, o jornal Zero Hora, as rádios Gaúcha e Farroupilha. Posteriormente, a rede foi ampliada com a TV Caxias, Rádio Atlântida, Cidade, Itapema e redes de televisão e jornais em Santa Catarina. quatro dormitórios e sanitários na "perna" principal e estar íntimo na "perna" menor (Figs.129 - planta 2° pavto.). Na composição volumétrica, caracterização das partes e relações entre áreas externas e internas, assim como tratamentos de áreas abertas, intermediações, desníveis e elementos de paisagismo, está o potencial compositivo e visual deste projeto . O pavimento térreo é organizado de forma a definir núcleos funcionais mais compartimentados como o vestíbulo, cozinha, área de serviço e espaços de permanência, em diversas salas que se abrem ao exterior através de pátios e espaços de intermediação densamente configurados por paredes que se prolongam, pisos contínuos, planos de cobertura estendidos ao exterior, floreiras e mobiliário externo, acessados por aberturas generosas . De certa forma, há cinco pátios distintos: o que caracteriza o recuo de jardim, onde estão os acessos sociais para cada frente do lote; o pátio de acesso à zona de serviço, com entrada de automóveis; um pátio social mais íntimo, comunicado à copa, situado à frente da casa, delimitado por planos de madeira e alvenaria; o pátio interno principal, com piscina e área de lazer , conectado a todas as alas; e o pátio de serviço, junto à borda irregular do terreno, separado da casa por plano que virtualmente regulariza o lote nesta direção. Todos os pátios se relacionam com a casa através de áreas de intermediação claramente configuradas por elementos que se "desgarram" da casa, como paredes, pisos e planos de cobertura, recurso espacial wrightiano, frequentemente explorado por Moojen em outros projetos. A organização formal do segundo pavimento obedece, no entanto, outra categoria visual. Definida formalmente como uma caixa abstrata – como na Casa Altos Pinheiros (1957), de Eduardo Corona (1921-2001), ou a Residência Ibirapuera I (1957), de David Libeskind (1923), ambas em São Paulo - que contém grandes rasgos contenedores de esquadrias, venezianas deslizantes e planos de fechamento lateral de textura e nível distintos da caixa, como os combogós da circulação vertical, o volume superior pousa sobre os planos soltos que definem o pavimento térreo. Assim, o conjunto de elementos que configuram o projeto como um todo denota um território, áreas abertas e fechadas, integralmente ordenado por relações geométricas de linearidade, ortogonalidade e formas puras, que se concentram em determinado setor configurando a parte inferior da construção, base de volume abstrato que flutua sobre tudo. Esse recurso formal é dramatizado na esquina, junto à entrada principal, com o descolamento da caixa superior do plano de fechamento do vestíbulo inferior, por janelas altas, com pilares regulares à mostra, cuja ordem e tratamento das aberturas novamente seguem Frank Lloyd Wright. O balanço do balcão de intermediação da entrada, sobre o jardim, em perspectiva com a caixa, acentuando a regra da flutuação, tanto diz respeito a Wright quanto a Neutra. No entanto, a investigação artística, tanto neste caso quanto no restaurante da REFAP, feito simultaneamente, estava na relação da abstração com o território e na contravenção da lei da gravidade com o jogo estrutural.

A Casa Sirotsky, talvez um dos melhores projetos residenciais dos arquitetos, relevante exemplar da arquitetura moderna brasileira no sul, infelizmente não resistiu às mudanças havidas com as alterações familiares e pessoais do proprietário. Nos anos 1980, a casa foi inteiramente reformulada por outro arquiteto, com tal profundidade que, se fosse automóvel, a seguradora daria perda total.

Sergio M. Marques, 2013

FICHA TÉCNICA

Local: Rua Idelfonso Simões Lopes, Porto Alegre

Projeto Original, 1963

Arquitetura:  Arq. Moacyr Moojen Marques (1930)

Arq. Marcos D. Heckman

Fotografias:

Colorida: Daniel F. Pitta

Preto e Branco: Moacyr M. Marques

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BIBLIOGRAFIA

MARQUES, Sergio Moacir. FAM, Associação dos Professores da Faculdade de Arquitetura de Porto Alegre  - ADFAUPA, Porto Alegre, 2017

PREMIOS E EXPOSIÇÕES

Participação na VII Bienal Ibero Americana de Arquitectura e Urbanismo, Medelín, 2010

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