Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP
REFAP
O desenvolvimento do plano diretor para a gleba, tão estratégico tanto para o resultado espacial do conjunto quanto para a arquitetura dos pavilhões propriamente ditos, partiu de premissas determinadas conjuntamente pela equipe, e duas diretrizes fundamentais estruturam a lógica do partido urbanístico adotado:
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aproveitamento dos valores da paisagem local, tanto pela manutenção máxima possível do relevo – evolvendo um conjunto considerável de vegetação nativa e concentração natural de água preservados, mantendo boa parte da topografia original e açude existente, originários da Fazenda da Brigadeira (Bairro São Luís – Canoas-RS), sede do local, cuja construção principal também foi preservada – quanto pela implantação das edificações novas e área industrial em articulação respeitosa com o ambiente ;
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organização geral das edificações e zoneamento da área industrial de forma a constituir espaço urbano ordenado por objetos autônomos, inseridos na paisagem, relacionados entre si, tanto através de sistema espacial abstrato e fluido – onde perspectivas visuais relacionam formalmente as unidades, formando uma espécie de jogo entre peças distintas de um mesmo sistema – quanto pelas relações tipológicas estabelecidas entre as edificações. O princípio de organização espacial e formal dos diversos pavilhões evidencia a utilização de critérios modernos de projeto, com certa universalidade, porém adequados às variáveis de programa e sítio, fortemente condicionados por parâmetros técnicos e construtivos, estabelecendo um conjunto de relações topológicas entre eles, desde o ponto de vista urbano e sistêmico/tipológico até o ponto de vista formal das arquiteturas;
Na escala urbana, portanto, a estratégia de projeto foi conceber, em equipe, partido geral para a implantação do conjunto, com ênfase em sistema espacial controlado funcionalmente, mas qualificado formalmente, observando parâmetros ambientais, através de desenho abstrato ordenado e relações visuais consequentes. O conjunto conforma espaço urbano moderno controlado espacialmente, mesmo que desenhado a partir de parâmetros de funcionalidade, circulação e segurança determinantes no caso: a organização geral do complexo obedece ordenamento cartesiano de quadras ortogonais regulares para a área industrial – que ocupa a metade norte da gleba, dividida em duas longitudinalmente, com ocupação da perna do “L” a norte de forma a “encaixar” a perna do “L” da área do refeitório, configurando dois “Ls” associados, como convém às exigências programáticas – e um traçado mais irregular à garden city, conectando pavilhões horizontalizados e valorizando a paisagem natural nas áreas coletivas, com Refeitório, Administração, Superintendência, Serviços Médicos, etc.
A estratégia do projeto, subvertendo a prática de tábula rasa de nivelar o terreno integralmente – critério comum nas instalações industriais, igualmente intencionada inicialmente pela Petrobras para o caso – preservou as condições topográficas naturais e a mata nativa e condicionou substantivamente os princípios de organização urbana e ocupação espacial adotados, localizando nas partes mais altas os edifícios administrativos e serviços, em quatro conjuntos, de forma a estabelecer relações arquitetônicas entre si, com a paisagem e restringindo o terrapleno à área industrial propriamente dita, onde o sistema espacial é rigorosamente subordinado à infraestrutura. A ideia de constituição de conjuntos urbanos modernos revela sensibilidade incomum em complexos industriais, com poucos antecedentes no relativamente recente processo de industrialização do país.
Sergio M. Marques, 2012
Refinaria Alberto Pasqualini - REFAP
Ano: 1962-1968
Área: 50.000m²
Promotor/Contratante:
Governo do Federal do Brasil., Petrobrás S.A.
Projeto de Urbanismo, Paisagismo, Arquitetura e Fiscalização de Obral:
Arqs. Carlos M. Fayet, Cláudio L. G. Araújo, Moacyr Moojen Marques, e Miguel Pereira
Complementares:
Cálculo Estrutural:
Eng. Dicran Gureghiam, Eng. Eugênio Knoor, Eng. Fernando Campos de Souza
Técnicas construtivas e especificações
Eng. Raul Rego Faillac
Instalações elétricas, hidráulicas e ar-condicionado
Eng. Boyjunga Dias e Eng. Milton Campos
Acesso viário BR-116
Eng. Cloraldino Severo
Construtoras:
Melo Pedreira, Azevedo Moura Gertum, Tedesco e outras.
Local: Rodovia BR 101 Km 13, Canoas/RS
Condição Atual: Em uso
Fotografias:
João Alberto da Fonseca – Acervo FAM
Modelo 3D:
Sergio Marques
Portaria, Centro Médico, Almoxarifados e Oficinas
Refeitório, Centro de Treinamento e Sede Original da Fazenda
Super Intendencia, Laboratórios e Central de Segurança. A cosntrução branca a esquerda da foto fou realizada posteriormente sem a participação da equipe original de projetos
01
02
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Visata Geral Oeste - Leste
Reservatório / Moacyr Moojen Marques
Elevação Principal, Oeste
BIBLIOGRAFIA
LUCCAS, Luís Henrique Haas. Arquitetura moderna brasileira em Porto Alegre: sob o mito do “gênio artístico nacional”. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2004 (Tese de doutorado em arquitetura).
MARQUES, S. M.. FAM. 1. ed. Porto Alegre: ADFAUPA, 2016. v. 300. 448p
MARQUES, S. M.. Carlos Maximiliano Fayet. Arquitetura moderna brasileira no Sul. Arquitextos (São Paulo. Online), v. 105, p. 105.03, 2009
MARQUES, S. M.. Ambiente, paisagem, urbanismo e arquitetura modernos em obra pioneira da Arquitetura Moderna Brasileira no sul: Refap/Petrobras - 1962/1968. AMBIENTE CONSTRUÍDO (ONLINE), v. 18, p. xxx, 2018.
MARQUES, S. M.. DA "REFINARIA À SECRETARIA" - Racionalismo Estrutural, socialismo nacional e modernismo regional em obras públicas de Fayet, Araújo & Moojen - 1962 a 1970. In: Carlos E. D. Comas; Marta Peixoto; Sergio M. Marques. (Org.). Concreto - Plasticidade e Industrialização na Arquitetura do Cone Sul-Americano 1930/1970. 1ed.Porto Alegre: Editora Ritter dos Reis, 2012, v. VII, p. 175-204
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil (1900-1990). São Paulo: Edusp, 1998.
XAVIER, Alberto/MIZOGUCHI, Ivan. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987.
PREMIOS E EXPOSIÇÕES
Medalha de Ouro - Melhor Projeto Construído, 4º Salão de Arquitetura do RS IAB/RS. Janeiro 1968
Bienal Internacional de Arquitetura – Tradição e Ruptura – Fundação Bienal de São Paulo (19/11/1984 a 31/05/1985)
Integrante do Arquivo Internacional de Arquitetura Moderna do DOCOMOMO - Ficha elaborada por Sergio M. Marques